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Engenharia de Software

A culpa é toda sua!

Final de projeto, prazo chegando e o chefe reclamando. Três coisas absolutamente naturais de quem trabalha com desenvolvimento de software.
Com aquela data em mente e dezenas de coisas pendentes para fazer, outra coisa muito comum é fazermos aquelas horas extras para conseguir terminar as tarefas.

Até aqui tudo bem.

Equipe as vezes unida, as vezes nem tanto, mas o trabalho continua a todo vapor, consumindo alguns finais de semana e aumentando a carga horária de 8 horas para 10, 13, 15 horas.
Nesses dias a sua saúde vai pro vinagre, não se alimenta direito, almoça tarde, trabalha de noite e pedem pizza para tentar compensar a situação.


No final das contas o projeto foi entregue, você talvez termine isso com alguns efeitos colaterais a longo prazo também.

Nenhuma novidade até aqui.

E finalmente chega a hora da recompensa, a hora que você receberá pelas horas trabalhadas.

É nesse momento que as empresas se diferenciam. Algumas fazem o que a maioria faz: pagam.
Outras podem até te elogiar, mas na hora de pagar tentam jogar a culpa para o seu lado, que todas as horas extras e finais de semana trabalhados não são esperados no orçamento e blá blá blá.
Pode esquecer, nada de banco de horas, não vão pagar as horas extras e ponto final.

Então você está passando por isso?

É comum essa situação para você?

Sinto muito lhe informar, mas a culpa é toda sua!

Além disso, você só piora a situação do mercado fazendo isso!

Aceitar esse tipo de coisa é um péssimo erro que você faz pela sua carreira.

Vamos mostrar um exemplo bem simples: você contratou um pedreiro para subir uma parede de gesso no meio de sua sala. Marcaram um dia, ele tirou as medidas, passou um preço e uma previsão de 5 dias para terminar o projeto. Segunda-feira começa a reforma, e no quarto dia você lembra que essa parede precisa ter uma janela em determinada altura, e dois apoios em ambos os lados. Você conversa isso para o seu pedreiro e exige que precisa estar pronto para a próxima segunda. Serão necessários mais dois dias, o final de semana foi comprometido, mas no domingo de noite a sala está pronta.

Chegou a hora do pagamento. Você acha, sinceramente, que o seu pedreiro vai aceitar o seguinte argumento:
-Olha, a parede pronta na segunda-feira era sua obrigação, portanto se você gastou tempo a mais no trabalho o problema é seu, só vou pagar os cinco dias combinados.

Claro que não, é óbvio que ele deva receber pelos dias extras trabalhados, mas porque o seu chefe não percebe isso e não faz nada quando acontece exatamente a mesma situação com você?

Simples: você aceita. Só isso. Ele sabe muito bem que horas extras foram gastas, mas é mais cômodo e econômico jogar essa responsabilidade para o seu lado.

Existem duas soluções para esses casos:

  • Negociação – muitos executivos (e até mafiosos) ficaram milionários não por trabalharem muito mais por dominarem o ato de negociar. A negociação tem que partir de você, onde você pode oferecer algumas opções: folgar as horas trabalhadas ou receber essas horas extras no mês que vem. Não se esqueça de quando for negociar já ter essas datas em mente para não cair na armadilha de “depois a gente vê isso com calma“.
  • Mudança – o mercado tem muita opção boa, procure um novo trabalho e durante a entrevista já esclareça esses detalhes de remuneração. Escolha o local certo ou corte o mal pela raiz.

Você não tomando uma atitude só piora a situação do mercado.

Imagine num treinamento, ou num evento de gerentes uma conversa assim:

– Vocês pagam hora extra? Isso é burrice!
– É mesmo?
– É só fazer uma pressão que o pessoal acaba trabalhando de graça.
– Interessante, vou tentar isso qualquer dia na minha equipe.
– Eu também!

E assim começa, não piore uma situação assim, nunca aceite esse tipo de coisa, tente negociar, se não conseguir, mude!

A atitude de não aceitar coisas não vai também só em termos financeiros, isso vale para muitas coisas. Toda vez que alguém tenta falar que eu trabalho numa fábrica de software eu já rebato na hora que esse é um termo jurássico e inapropriado para o desenvolvimento de software.
Numa fábrica de carros, roupas, eletrônicos, são produzidas milhares de coisas iguais, mas numa empresa de todo software produzido nunca um é igual ao outro. Além disso, quem trabalha numa linha de produção de uma fábrica faz um trabalho braçal, mecânico. Já o desenvolvedor de software faz um trabalho criativo, que utiliza a mente para resolver diferentes problemas a cada dia, tanto de regras de negócio como de barreiras que as diferentes tecnologias nos impõem.
A área de marketing é uma área que usa muito a criatividade, e quem trabalha nesse ramo fica em agências, portanto o correto seria usarmos o termo agencia de software.

Portanto não aceite as coisas por comodismo, tome uma atitude e invista na sua carreira. Você não tem futuro em um lugar que explora as pessoas.

Fernando Boaglio, para a comunidade. =)